Instituto de Psicologia

Milton H. Erickson

Aprendizagem e crescimento.

Juiz de Fora

 

 

DIVINOS BUSCADORES

Suzana Maria de Paula Mendonça.

Outubro/2025

Cada um escolhe uma palavra ou uma expressão que, de alguma forma, retrate o carinho, o respeito e, ao mesmo tempo, desperte no outro aquilo que no fundo o estimule as buscas para encontrar, desejar ou mesmo, compreender o que de fato ecoa em cada indivíduo aquela expressão ouvida. Entendendo que o que realmente vai ecoar na essência do indivíduo.  Funciona como uma sintonia que naquele momento soa em todos. E soa de forma vibrante.  Além do contexto, consideramos a forma como se fala, a tonalidade da voz, o cenário, os envolvidos e os momentos de cada um. A minha compreensão é que os seres humanos estão ligados a Deus de forma especial. E, por esta ligação, eu considero que cada um busca informações sobre como realizar o que intimamente buscam. Arrisco a dizer que é basicamente a paz, a sabedoria, o equilíbrio emocional. E, os divinos buscadores tem como característica a disponibilidade. E eles se dispõem ao autocrescimento, ao autodesenvolvimento e conseguem ampliar os horizontes. E, neste momento, flui a energia que impulsiona para ir desejando acessar a própria essência e, ao mesmo tempo, protegê-la. A proteção nasce do aprofundamento na própria essência que vai guiando, intuindo para cada dia mais, se tornarem mais interessados em crescer e acionar a força interna que em muitos casos, estão adormecidas. E quando se descobre capaz, reconhece que muitos estão distantes pelos desequilíbrios constantes, pela desconexão com interno, a falta de força interior por não se voltar ao autocrescimento e autoconhecimento. O mais interessante é que quando o indivíduo investe no caminho de autodescoberta, melhora a autoestima, elabora um autoconceito realista carregado de autocompaixão e autoempatia. A disponibilidade para tal é fundamental neste momento.  A ligação com o divino pode ser também pela percepção de que cada um vai desenvolvendo á medida em que inicia o processo de conscientizar-se si, do seu redor e cada um. A conclusão é a possível descoberta de que muitos pesos não são de si mesmo, nem tudo diz respeito a si mesmo ou não o define, percebe que é diferente do outro, mesmo sendo este outro próximo por sangue ou por afinidades, e com isso, faz as melhores escolhas para si mesmo. Os verdadeiros buscadores, são os que se permitem sentir, pensar reflexivamente e fazem escolhas assertivas. Eles incluem em seus planos o continuo desenvolvimento dos aspectos físicos, emocionais e espirituais. E assim, cada um segue buscando o seu caminho.

Exercício:

Para iniciarmos, por favor, coloque-se em uma posição confortável, feche os olhos para externo e encontre o seu rico interior, respire lentamente, sinta o ar entrar e sair de você e, depois, deixe que a respiração volte ao ritmo normal, natural para você. Perceba o caminho, a densidade, a temperatura e o trajeto do ar. Após o exercício, você poderá desejar mais e mais bem-estar para si mesmo. Permita que seu o corpo relaxe e a sua mente se distraia, enquanto a mente segue relaxando profundamente e o corpo a acompanha se distraindo das tensões, porque cada um faz a sua parte e de parte em parte, serão em poucos minutos um perfeito corpo em bem-estar. Se você se permite, então descanse, solte-se, porque este pode um aprendizado inicial para suas buscas mais convictas. Vamos contar com a imaginação, por favor, imagine estar num lugar agradável, tranquilo que contém tudo aquilo de que precisa neste momento. Perceba o lugar, o som, as cores, as formas, os sabores, os aromas e tudo mais... sinta, sinta o aprazível, a serenidade, as sensações. Imagine e solte-se, desfrute de cada parte e mais tarde, ao se preparar para dormir, poderá manter a agradável sensação de corpo relaxado e mente serena. Isso, aprofunde-se mais, a cada respiração, mais tranquilidade e mais relaxamento... paz, sabedoria, equilíbrio emocional. E agora, por favor, tome uma respiração diferente, espreguice e volte-se totalmente desperto para o seu aqui e agora. Sinta os pés tocando o solo, esfregue as palmas das mãos, abra os olhos e atento, volte para suas atividades.  

 

 

 

 

O TEMPO

 

Suzana Maria de Paula Mendonça.

Setembro/2025

E pensar em como o tempo age ou talvez, como lidamos com ele, nos gera muitos aprendizados e oportunidades de crescimento. Em relação a espécie humana, parece exigir maior compreensão e melhor reflexão com maior tempo e com maior profundidade.  O ser humano nasce e cresce, constrói relações das mais diversas e, no seio familiar, irmãos dividem ou assumem sozinhos os cuidados com os pais que envelhecem e/ou adoecem, às vezes, no intervalo pode surgir um tio(a), marido, esposa, irmão ou outra pessoa que, por necessidade, vai ficar aos seus cuidados. Até aí tudo bem! O desafio se inicia quando precisa trabalhar fora, em casa, nos cuidados com as pessoas e percebe as necessidades de todos os trabalhos e o tempo não se encaixa em tudo que se torna preciso. Administrar o tempo é fácil, quando se organiza, aprende e consegue. Outro desafio maior surge. É que, quem cuida, também envelhece, adoece e dividir tempo nem sempre funciona de maneira exemplar, adequada e nem satisfatória. Resignação também exige esforço e força interna. Tudo isso, favorece pensar em soluções. Longe do ideal, mas trazer à baila desde muito cedo, os ensinamentos de cooperação, respeito, cuidados, dignidade. Temas que podem ser inclusos nas áreas de educação do início ao fim dos estudos regulares. Responsabilidades de políticas públicas básicas. Famílias com melhores exemplos e estrutura educacionais mais sensíveis e amorosas. Cultura avançada e interessada em ensinamentos ancestrais. Assim, todos podem sem sofrer pesos, enfrentar ou aprender a lidar com o que é pertinente aos contextos e demandas. Sem culpas, sem cobranças, sem imposições, sem muito ou pouco, simplesmente, o individual na medida certa. Se todos envelhecem juntos e se invertem a ordem, então é útil se manter informado em como cada um pode fazer o seu melhor e mais adequado, porque o tempo não para nunca mesmo e tudo que inicia, termina. Que cada ser humano seja capaz de ficar frente as brechas da vida e, com elas, desenvolver as melhores estratégias, servir de inspiração, criar melhores momentos e poder reconhecer o compromisso com cada ser humano ao seu lado, a missão que possui e a gratidão pelo antes, durante e depois de cada etapa.  E sempre poderá ter escolha. Que seja mais fácil escolher e aceitar ou escolher aprender a lidar. Paciência, foco, divisão, carinho e responsabilidade.

  

 

 

Quem conversa com quem?

Suzana Maria de Paula Mendonça

Agosto/2025

Foi lá no Sitio do Sinhô, lugar recheado de novidades e estranhezas enriquecedoras. Local de trabalho do Camarada. Viviam às margens de um límpido rio, cercado de exuberante natureza, onde as noites se enchem de brilhantes estrelas e a lua é sempre cheia. Amor, carinho, coragem, sabedoria e alegrias. Os dois cuidando prazerosamente dos mais divertidos animais.   E a surpresa é GRANDE e o aprendizado ENORME.  Pode parecer exagero, mas foi uma grata e feliz surpresa ter presenciado tudo aquilo. Talvez alguns trechos se tornem engraçados, mas foi um grande aprendizado. Concluo desde já que, o local foi construído com a simplicidade da escuridão da noite, a pureza do luar, amor do criador, cuidado da natureza, respeito aos animais, sinceridade dos donos e muito mais coisas boas. Tudo de bom e rico, presentes nas relações entre o Sinhô e os outros personagens e, em específico, com os animais, que eu penso que se sentiam amados e realmente se comunicavam com Sinhô. Eu presenciei, eu vi, eu estive lá.

Participei de muitos passeios, coisas diferentes, lugares bonitos e tudo muito fora do habitual dia a dia.  Uma grata e verdadeira surpresa. Um sitiante que chamava as vacas e seus outros animais, mesmos os animais visitantes, pelos nomes. E o incrível da história, todos o atendiam. Ele estava e penso que lá sempre permanecia, calmo, sossegado, semblante terno, conectado com a terra e com os animais e com elegância, chamava em alto e bom tom as suas vacas para ordenha: “Estrela, Bia, Formosa, Pintada, Esmeralda, Rajada” e tantas outras, e todas vinham e esperavam ser ordenhadas e seguiam o caminho. E outra não mais inesperada surpresa, foi quando o Camarada o interrompe e diz: “Pede o boi para deixar passar.” E ele chama o boi, pelo nome, Dengoso e entabula a conversa ao pé da orelha. Explica ao boi que ele precisava deixar as vacas passarem. Manda o boi ir para o outro lado e ficar calmo. Fala que ninguém ia chegar perto dele.  O boi volta para outro lado, ao final do curral e fica de costas.  Sinhô explica que o boi não gosta de estranhos, nem de gente. E rimos. Eu não tinha uma filmadora, não tinha nada para gravar, então optei por escrever antes que a memória me traia. E não para por aí. O gato aponta e o Sinhô diz: “Canela chegou! Chegou tarde hoje. Traga a comida e o leite dele”. Vira-se para o Gato, chamado Canela e diz: “atrasou hoje, agora espera.” O Camarada leva uns trinta minutos para trazer a comida do gato. Enquanto isso, o gato se deita, levanta, encosta no sinhô e o obedece quando escuta: “Calma, espera, não me atrapalha, senão eu tropeço em você e caio”. Após a ordenha, tivemos oportunidade de tomar o leite direto da teta no copo. Uma experiência saborosa. Teve caminhadas pelas áreas do sitio, conhecer as plantas, as árvores e toda área plantada de capim e cana para alimentar o gado. Vimos cada processo, cada etapa. E enquanto isso, as coisas aconteciam. Havia um cachorro deitado e perguntamos o nome dele e Sinhô disse: ele só trabalha quando o gado está solto, se precisamos prendê-lo, por isso, ele fica só na tranquilidade. No local preferido, na porteira de entrada, ele sabe que é por aqui que passamos na hora que ele vai trabalhar. E diz ao cachorro: “Levanta ventania, deixa a porteira livre fica lá com os bezerros”. E o cachorro vai e fica onde o Camarada está, a escovar os bezerros.

O passeio continua e Sinhô abaixa e levanta e arranca uma folha ali, outra aqui e cheira e nos dá para cheirar e conhecer. Carqueja, aroeira, trançagem, confrei, arnica, babosa e outras mais. Ao atravessar a estrada que corta o Sitio, Sinhô encontra um conhecido que para, conversa e falam de outro amigo em comum e que está doente por abusar de frios, esforços e tudo o mais e Sinhô diz: “fala pra ele amarrar as calças”...

Rimos e continuamos, encontramos a Charmosa, a gata do Sinhô, que para, e olha para ele, e toma logo uma bronca. Bronca por ter estado muito tempo fora, e ele a manda ir para casa e ficar lá. Ela vai correndo, entra na casa e fica na sala em frente a porta tomando sol. Retornamos a casa e a vimos. Sinhô diz a ela: “vai comer, bebe água e fique quieta. Ela se levanta e vai comer, toma a água e volta quieta”.

O camarada chama e diz: “o Dengoso não quer deixar as vacas saírem e a Estrela está comendo no cocho dos bezerros”.

Sinhô, sai da casa e diz: “Ave Maria! Ave Maria! Ave Maria, três dias... E grita Dengoso, fora! Fora”! Dengoso fica na cerca e Sinhô vai ao lado do boi e começa a passar a mão nele e conversa como se fosse gente. Enquanto isso, as vacas saem para o pasto. Ele nem falou com a vaca, ela só ouviu a voz dele com o boi e saiu do cocho e foi para porteira para sair. Lá já estava a postos o Ventania. Caminhamos juntos até um pasto perto e cercado. Voltamos e em seguida fomos em direção a um pequeno curral de bezerros e Sinhô passa a mão nos bezerros, com muito carinho, da cabeça ao rabo, elogia o pelo, fala da força, dá tapinhas carinhosos e leva umas suaves cabeçadas. Saímos e fomos nos sentar na cozinha, ao lado do fogão a lenha onde estavam batatas doces e espigas de milho assadas na brasa. O que ouvia: “que delicia, são doces e saborosas”. Sinhô diz:” a natureza responde de forma vital se você não a maltrata”.   Foi aí que descobri o significado das expressões, sabor de natureza, beleza das relações e a força do amor quando se faz e sabe do que gosta.

 

 

 

 

Indicação de leitura:

Livro: Trauma e Memória.

Autor: Peter A. 

Editora: Summus Editorial, North Atlantic Books